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Em defesa do Evangelho

O Evangelho não precisa da minha defesa nem da defesa de ninguém; ele tem feito sua própria defesa ao longo dos séculos. Porém, não posso deixar de ser coerente com o Evangelho, porque grande parte do Novo Testamento consiste de reprovação aos falsos ensinos e falsos mestres. Jesus censurou escribas, fariseus, saduceus, e herodianos. Paulo disse: “É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.11).

Por isso, me disponho a pregar a Palavra de Deus e pedir com insistência que as pessoas se reconciliem com Deus por meio do Evangelho. Jesus e os apóstolos eram graciosos com todos, com os fracos e mesmo com aqueles que pecavam, apontando sempre a graça benfazeja de Deus. Mas eles foram duros com todos que ensinavam contrário ao Evangelho, pois como câncer seus ensinos corroem entrando sutilmente nas pessoas como o fermento que leveda toda a massa da consciência. Entre tantas passagens bíblicas, faço aqui um breve comentário de 2 Coríntios 11.1-15.

11.1 - Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura. Suportai-me, pois.

Paulo pede um pouco mais de paciência aos crentes de Corinto enquanto faz sua defesa do Evangelho ao longo dessa carta. Suas palavras pareciam loucura como se ele fosse ignorante das coisas de Deus. Diante do ensino dos falsos apóstolos que se infiltrou na igreja, o que Paulo dizia parecia estranho. Não havia necessidade de defesa, mas Paulo fez isso pela dignidade do Evangelho. É assim que acontece hoje paradoxalmente: O Evangelho é o maior incômodo para a “igreja evangélica” em nossos dias.

11.2 - Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo.

Quem anuncia o Evangelho zela das pessoas com um ciúme puro que vem de Deus. As pessoas devem ser preparadas para Deus como uma noiva que se apresenta virgem para o seu noivo. A igreja é a noiva, o esposo é Cristo, a pureza é a prática do Evangelho, a imoralidade é o ensino errado e a conduta religiosa não condizente com a verdade. Quem ensina e pratica distorcidamente o que o Evangelho ensina, é como uma noiva que mantém relações sexuais com um estranho antes do seu casamento.

11.3 - Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.

O zelo dedicado de Paulo não imunizava a igreja do risco de ser enganada por Satanás. Ele ataca a mente das pessoas com idéias e pensamentos contrários a Deus, mas que são apresentados astutamente como coisas santas e verdadeiras. Quando o Diabo consegue convencer alguém com pensamentos errados, ele ganhou tal pessoa, levando-a a práticas reprováveis diante de Deus, mesmo que dentro da igreja. As primeiras coisas que a igreja perde quando iludida pela serpente é a simplicidade e a pura devoção a Cristo. O Diabo gosta de enganar as pessoas através de pregadores da Bíblia que trocam a essência do Evangelho por doutrinas de homens e de demônios.

11.4 - Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais.

Havia na igreja de Corinto gente falando de outro Jesus que Paulo e os demais apóstolos não conheciam; os crentes aceitavam espírito diferente do que tinham recebido, e evangelho diferente do anunciado por Paulo. Os crentes estavam de boa vontade aceitando esse tipo de pregador. Eles sabiam que Jesus é um só e os hereges também, mas eles estavam ensinando de forma errada sobre a vida, o ensino, a morte e a ressurreição de Jesus. A igreja aceitava ouvir falar de um Jesus criado à imagem e semelhança dos falsos pregadores, como hoje em dia, onde cada igreja parece ter o seu próprio Jesus. O povo se deixou influenciar por outro espírito que não o Espírito Santo; trocaram o Espírito de amor, liberdade, paz e poder, pelo espírito do medo, escravidão e libertinagem; trocaram o Evangelho por aquilo que não era evangelho (veja Gálatas 1.6-9), mas apenas costumes de homens. Assim estão as “igrejas evangélicas” em nossos dias, dirigidas por métodos e estruturas empresariais que nada têm em comum com Jesus. As “igrejas evangélicas” não suportam mais a simplicidade do Evangelho.

11.5 - Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos.

Paulo tinha plena convicção de sua vocação como pregador do Evangelho. Mesmo sendo chamado por Deus posteriormente aos doze chamados por Jesus no início, ele em nada se sentia inferior a eles, quanto menos aos falsos apóstolos que se apresentavam como superiores aos apóstolos de Jesus. De forma irônica Paulo os chama literalmente de “superapóstolos”. Mas, quem conhece a Jesus e ao Evangelho não se deixa influenciar, intimidar e nem comparar com ninguém, pois sabe em quem tem crido.

11.6 - E, embora seja falto no falar, não o sou no conhecimento; mas, em tudo e por todos os modos, vos temos feito conhecer isto.

Paulo hoje seria ouvido por poucos crentes, porque ele não era eloquente e não era um excelente orador, mesmo sendo profundo conhecedor do Evangelho. Os crentes não gostam do conhecimento de Deus (não estou falando apenas de conhecimento da Bíblia), e não gostam de pensar, pelo contrário, eles gostam mesmo é de badalações, gritaria, emocionalismo, sensacionalismo, exibicionismo, e frenesi “espiritual”. Veja o que diziam de Paulo: “As cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra, desprezível” (2Co 10.10). Quando Paulo foi anunciar o Evangelho em Corinto, ele não ostentou linguagem nem sabedoria humana; ele decidiu nada saber entre eles, senão a Jesus Cristo e este crucificado.

11.7 - Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus?

Paulo pastoreou aquela igreja vivendo humildemente, sem dar importância a títulos, honras humanas, vida luxuosa, e aparência vaidosa. Ele destacava e priorizava os crentes; anunciou o Evangelho de graça entre eles, pois proveu o seu próprio sustento. Esse estilo de vida é quase desconhecido em nossos dias – um pastor com vida simples, que não busca destaque próprio e que não tem salário fixo da igreja. Você conhece?

11.8 - Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir,

Paulo não recebeu apoio financeiro de Corinto porque outras igrejas lhe mandaram ofertas voluntárias. Jesus disse: “digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10.7), significando dizer que é justo que uma pessoa que tem o dom pastoral e vive para servir no ministério cristão receba sustento da igreja. “Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho” (1Co 9.14). “Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui” (Gl 6.6). Isso deve ser feito de modo voluntário e consciente por parte de todos.

11.9 - e, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava; e, em tudo, me guardei e me guardarei de vos ser pesado.

Que pena que hoje essa seja uma verdade praticada por pouquíssimos. Quantos estão dispostos a passar privações por amor ao Evangelho sem serem pesados a ninguém? Quem é capaz de viver de ofertas voluntárias ou ganhar o seu próprio sustento para ter como dedicar sua vida ao Evangelho? Procura-se! Paulo usa uma expressão metafórica para falar de se fazer pesado. É como um peixe que paralisa sua vítima antes de devorá-la. Assim procedem muitos exploradores da fé alheia que paralisam as pessoas com seus engodos, cobranças, e chantagens religiosas, para em seguida devorá-las.

11.10 - A verdade de Cristo está em mim; por isso, não me será tirada esta glória nas regiões da Acaia.

“A verdade de Cristo está em mim”. Essa é uma declaração inabalável na vida de quem a pode confessar. O verdadeiro cristão é aquele que sabe que a verdade de Cristo está em sua vida, não em um templo, um local sagrado, um dia santo, num ritual, numa liturgia, num culto, numa confissão de fé eclesiástica, em títulos acadêmicos, mas, em nossa vida. A glória a que Paulo se refere é de ter pregado o Evangelho de graça para os coríntios, e esse privilégio de anunciar a Graça de graça para eles não seria tirada dele em nenhum lugar da Acaia - província no sul da Grécia onde Corinto se situava.

11.11 - Por que razão? É porque não vos amo? Deus o sabe.

Os crentes de Corinto achavam que Paulo não os amava pelo fato de não ter recebido dinheiro deles, porque essa era uma forma de agradar e mostrar-se recompensado, mas o apóstolo deixa esses direitos que tinha como pregador. O seu amor pelas pessoas não dependia do sustento, das ofertas, ou de qualquer remuneração que pudesse receber.

11.12 - Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam.

Paulo não queria ser igual àqueles falsos apóstolos que gostariam de ser vistos pelo povo como um dos enviados por Deus como Paulo; e uma maneira de terem essa semelhança era ver Paulo aceitando pagamento pelo seu trabalho em Corinto, o que ele não aceitou. Aqueles pregadores eram mercenários e não perdiam ocasião de disfarçarem isso tentando igualar todos os pregadores aos olhos do povo. Precisamos ter coragem de romper com aqueles que parecem ser do evangelho, mas não o são.

11.13 - Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo.

Paulo faz aqui três acusações àqueles que enganavam o povo com a Bíblia na mão: 1º - Paulo diz que eles são falsos apóstolos; se denominavam como tais, mas não eram enviados como embaixadores do reino de Deus. Qualquer um, grupo, igreja, ou liderança, pode nomear, e “consagrar” quem quer que queira, mas isso não significa que esses chamados de “apóstolos” sejam verdadeiramente de Cristo. 2º - Eram obreiros fraudulentos, enganadores, que usavam de má-fé com o intuito de lesar e ludibriar seus ouvintes. 3º - Eles se transformaram em apóstolos de Cristo. A si mesmos se declararam apóstolos criando modos de serem chamados de apóstolos como acontece hoje.

11.14 - E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.

Não é de admirar que os obreiros fraudulentos se transformem em apóstolos de Cristo, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. O príncipe das trevas muitas vezes se parece com um anjo de luz para enganar suas vítimas. Por que Satanás gosta de usar pregadores com a Bíblia aberta sobre um púlpito e com um microfone na mão falando entusiasmadamente? Porque fica mais fácil enganar, pois poucos vão pensar que um “homem de Deus” possa estar sendo usado pelo Diabo em um culto a Deus.

11.15 - Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras.

Não pense que estou exagerando, porque aqui está dizendo que os ministros que Satanás usa se transformam em ministros de justiça. Eles parecem ser verdadeiros mesmo sendo das trevas, e conseguem mostrar um falso brilho que ilude os que não conhecem a verdade e não andam nos caminhos do Senhor. Vivemos dias difíceis que ficarão piores à medida que o fim dos tempos se aproxima. “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (1Tm 4.1-2).

Comentários

Anonymous disse…
Será que o sr. não é um destes que usa a palavra para agredir as igrejas evangélicas sem ao menos fazer excessões.
Como se fosse dono de toda verdade?
Meu querido Anônimo. Não estou agredindo as igrejas. Estou falando do que conheço de perto há mais de trinta e quatro anos. Existem exceções? Claro que sim. Eu conheço muitas dessas exceções e talvez você e sua igreja sejam parte dessas raras exceções. Mas, não há como negar o óbvio meu querido.

Um abraço para você e obrigado por escrever.

Antonio Francisco.

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