Pular para o conteúdo principal

Sou crente, não sou evangélico

Palavras são palavras e não têm vida em si mesmas, senão o significado que lhes emprestamos. As mesmas palavras podem ter sentidos diferentes conforme a época, o local ou a cultura. As palavras se desgastam ao longo do tempo; muitas vezes não dizem o que queremos ou deixam de significar o que diziam antes. Quero com isso considerar duas palavras: crente e evangélico. Não quero polemizar, mas quero esclarecer e influenciar com o Evangelho de Jesus Cristo. A palavra “evangélico” não aparece na Bíblia. Com isso não estou dizendo que ela não tem procedência. Os seguidores de Jesus são chamados cristãos, crentes, santos, e discípulos.

Então, o que é ser evangélico? Subtende-se que um evangélico é alguém que crê no Evangelho e que crê na salvação em Jesus, conforme a graça revelada em Cristo. Neste sentido eu sou evangélico, os discípulos eram evangélicos, os primeiros cristãos eram evangélicos e, existem muitos evangélicos assim em nossos dias. Mas, não é esse o sentido de evangélico conforme conhecemos hoje.

O “evangélico” de hoje em dia é uma pessoa indefinível. Tem de A a Z para todos os gostos, com todas as variações e contradições imagináveis. O “evangélico” entre aspas diz que crê em Jesus mas não pode nem imaginar chegar ao céu sem a mediação da “Igreja Evangélica”. Esse pessoal se denomina povo de Deus. Quem pertence a uma “igreja evangélica” é de Deus, quem está fora, é do mundo, do diabo, está perdido, vai para o inferno. É com essas categorias que os “evangélicos” pensam.

Se pertencer a uma “igreja evangélica” fosse o mesmo que crê e andar conforme o Evangelho de Jesus, tudo bem. Mas, não é assim que funciona. A questão passa pela institucionalização da fé, as tradições denominacionais, as doutrinas dos homens, os regimentos internos, e os estatutos reguladores da conduta de seus membros. Entre eles não basta crê para ser membro da igreja, é preciso andar conforme a cartilha deles.

Sou crente, não sou “evangélico”. O Novo Testamento usa várias vezes a palavra crente para mencionar aqueles que aceitam o Evangelho e passam a viver com a liberdade adquirida por Cristo na cruz; vivem em comunhão com outros crentes, mas não se enclausuram em sistemas religiosos regidos por regras fúteis que nada oferecem.

Veja algumas referências bíblicas acerca dos crentes. (Versão Almeida Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil):

“E quem fizer tropeçar a um destes pequeninos crentes, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar” (Mc 9.42).

“E logo disse a Tomé: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente” (Jo 20.27).

“E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor” (At 5.14).

“Chegou também a Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego” (At 16.1).

“Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos” (1Co 7.14).

“Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?” (2Co 6.15).

“De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão” (Gl 3.9).

“Se alguma crente tem viúvas em sua família, socorra-as, e não fique sobrecarregada a igreja, para que esta possa socorrer as que são verdadeiramente viúvas” (1Tm 5.16).

Comentários

Carlos Bastos disse…
Prezado irmão, Pr.Antônio, graça e paz em Jesus , Nosso Senhor. Li seu artigo "Crente ou Evangélico". Gostei! De fato na Bíblia não tem o termo evangélico, mas tem o feminino dele. Em Fp. 1.27 Paulo fala para lutarmos juntos pela fé evangélica. Creio que esta fé Evangélica, não é a fé Espírita, nem a Católica que são muito difundidas em nosso Brasil e nem tem a ver com os absurdos "evangélicos" por todo lugar. Jesus disse que o joio cresceria junto ao trigo... não conformamos com isso, né? Mas, infelizmente é a realidade, percebo que alguns dos pastores ou líderes de igrejas locais que já se "levantaram contra" suas denominações ou instituições e formaram "comunidades" ou igrejas "não institucionalizadas" simplesmente com o tempo, viraram instituições. Veja a igreja ortodoxa russa (Se separou da católica) no ano 1.000 dc; Lutero 1517?; Caio Fábio (1998/9)(Esses dias eu li um Email dele aos membros de sua "comunidade" aqui em Bsa "reclamando? ou puxando a orelha do povo de leve?!" porque muitos tinham deixado de ir à reunião de sua igreja num certo domingo, porque não seria ele o pregador, devido uma viagem, e que muitos haviam deixado de contribuir para o pagamento das despesas do ministério...); lembra do pr. de Goiânia da ICE da Fama, o Sinomar? Sua igreja "Luz para os povos" já teve várias divisões em Goiânia, inclusive tem uma muito maior do que a dele (Videira)...Vemos que são muitos os exemplos. As divisões da igrejas de Jesus são lamentáveis. Mas, o mais importante é nós sabermos que a igreja de Jesus, suas ovelhas , só ele as conhece. Ele vai arrebatar somente as suas ovelhas. Nós temos que anunciar o Evangelho para que o povo tenha uma Fé genuinamente evangélica, para que o povo seja de fato Cristão Evangélico!
Abraços em você e Rosângela.
Fique na paz de Jesus, Nosso Senhor!
Meu querido Carlos Bastos,

Obrigado por ler o que tenho escrito e por seus comentários.

Meu texto "sou crente, não sou evangélico" não está interessado em tratar de etimologia de palavras, mas com o sentido prático do que essas palavras representam. Para mim a igreja evangélica no Brasil caducou mesmo. Se por um lado tem as exageradas neopentecostais que vão aos extremos das crendices e do folclore eclesiástico, por outro lado tem as denominações históricas, como a ICEB, que é biblicamente "saudável", mas que se enrosca na institucionalização, no formalismo, nos atos pastorais infundados, nos estatutos e regimentos internos que na prática têm a mesma autoridade da Bíblia.

Eu confesso para você que cansei desse sistema estéreo que é mais sistemático que pragmático. Exatamente nesta semana completamos um ano de nossa COMUNIDADE DO CAMINHO. Um de meus propósitos é não sistematizar. Se você ler nosso blog www.comunidadedocaminho.com.br vai perceber isso. Temos alcançado pessoas para Jesus que nunca seriam aceitas pela "igreja evangélica". É uma pena, mas é assim que a igreja evangélica é. Se não houver coragem, discernimento e decisão para romper com tudo isso que está aí, a gente fica cego por toda a vida na gaiola da religião evangélica.

Continue escrevendo. Tomara que você não seja como tantos que só amam os que lhes amam conforme o denominacionalismo. E ainda se orgulham dizendo que os que saíram é porque não eram dos deles. Portanto, estavam errados. Que pena que a palavra de Marx é uma triste verdade entre os evangélicos: "A religião é o ópio dos povos".

Um grande abraço para você e para Débora.

Antonio Francisco.

Postagens mais visitadas deste blog

Quando o pecado é acalentado

“Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido” (Sl 66.18). O pecado nos assedia, nos cerca com a intenção de dominar, nos persegue com insistência, nos importuna. Somos atraídos ao pecado pelos nossos próprios desejos; e o pecado uma vez consumado, gera a morte. Mesmo sabendo disso, acalentamos o pecado como uma mãe que embala o seu filhinho para dormir. Quando isso acontece perdemos para o pecado, porque ele acontece dentro antes que fora de nós. Devemos perder todo cinismo em relação ao pecado e tratá-lo com a dureza que a santidade de Deus requer. É uma luta que não acaba. Às vezes parece que já vencemos a tendência de errar, mas não demora e percebemos que somos propensos ao mal. Não é sem razão que a Bíblia usa expressões fortes como: confessar, cortar, matar, negar, quando fala de nosso trato com o pecado. Não devemos acalentar jamais o pecado em nosso coração; ele quebra nossa comunhão com Deus, com as pessoas, e agita negativamente o nosso interior, prov

Lições do Mandacaru

Há meses minha esposa plantou em nosso quintal um pé de mandacaru. Ontem, o arranquei sem querer. Mexi na terra distante dele uns dois metros e descobri sua enorme raíz que se espalha em várias direções. O mandacaru é um cacto que nasce e cresce no campo sem qualquer trato. Até sobre telhados de casas rurais pode-se ver pé de mandacaru. O crescimento fica na dependência dos nutrientes do solo em que germina. Ele é típico da caatinga e pode atingir 5 até 6 metros de altura e sabe viver em ambiente de clima seco, com quantidades de água reduzidas. Suas raízes são responsáveis pela captação de água no lençol freático. O miolo, contém vasos condutores da água e outras substâncias vitais à planta. A parte externa é protegida por uma grossa cutícula que impede excessiva perda de água por transpiração. Sendo nordestino conheço bem essas características do mandacaru. Mas fiquei surpreso com o tamanho de sua raíz e tirei algumas lições: 1. Para viver nesse mundo árido precisamos saber

Balido e mugido

Desde Adão e Eva tentamos esconder os nossos pecados de Deus, das pessoas e até de nós mesmos. Não adianta, pois “o vosso pecado vos há de achar” (Nm 32.23). O nosso pecado é um flagrante diante de Deus e ele nos incomoda interiormente até que dele nos livremos. O pecado é doce na boca e amargo no estômago. “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13). A Bíblia nos ensina a odiar o pecado sempre. O profeta Samuel por ordem de Deus mandou que o rei Saul destruísse totalmente o povo amalequita sem nada lhe poupar, porque este dificultou a passagem de Israel pelo deserto quando o mesmo saiu do Egito (1 Sm 15). Saul convocou duzentos e dez mil homens para essa tarefa. Ele destruiu toda coisa vil e desprezível, mas poupou o rei, e o melhor das ovelhas e dos bois, e os animais gordos, e os cordeiros, e o melhor que havia. Isso fez com que Deus impedisse Saul de continuar como rei. Quando Samuel veio ao encontro de Sa